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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Entrevista ao Neuropsicólogo Dr. Ricardo Lopes

  •              Que dificuldades é que uma pessoa com Epilepsia atravessa no seu quotidiano?


A principal dificuldade com que uma pessoa com epilepsia se debate no seu dia-a-dia é o medo de ter uma crise. As crises são imprevisíveis e esta imprevisibilidade é algo que é extraordinariamente limitante no dia-a-dia de uma pessoa portadora de epilepsia. Igualmente os efeitos de alguns anti epilépticos que causam alguma lentificação a nível motor e descoordenação, assim como a nível cognitivo. Igualmente existem algumas limitações, como por exemplo a capacidade de condução ou o manuseamento de determinadas máquinas e claro o estigma que ainda está muito associado a esta doença e a carga negativa associada a esta patologia é claro uma dificuldade que uma pessoa com epilepsia tem de lidar no seu dia-a-dia. 

  •     Aos olhos da sociedade, o que é a Epilepsia?


Aos olhos da sociedade, infelizmente ainda existem um número muito alargado de pessoas que confundem epilepsia com crises epilépticas. E dentro das crises epilépticas, confundem geralmente as crises tónico-clónicas generalizadas. Portanto aquelas convulsões que vemos nos filmes, extremamente aparatosas e muito assustadoras. Epilepsia não é só ter crises é muito mais do que isso. Infelizmente esta confusão entre epilepsia e crises prejudica e atrasa a necessidade de desmistificar o que é esta doença. A epilepsia é uma doença crónica, mas que infelizmente ainda não é visto como outras doenças cronicas, como por exemplo a asma ou a diabetes. É uma doença que ainda acarreta um estigma negativo demasiado elevado nos dias de hoje pela capacidade que temos de acesso á informação e a possibilidade imediata de desmistificar o que é esta doença.

  • Como é que caracteriza a interacção entre a sociedade e uma pessoa com Epilepsia?


Felizmente, nos últimos anos, temos assistido a um esforço muito significativo de uma série de entidades e associações, como a Associação Portuguesa de familiares e amigos de pessoas com epilepsia ou a Liga Portuguesa Contra a Epilepsia, na tentativa de informar a sociedade em geral do que é a epilepsia. Igualmente assistimos à criação de uma série de medidas de proteção da pessoa com doença crónica ou com dificuldades cognitivas associadas. Esta interação entre a sociedade e o doente portador com epilepsia ainda está longe de ser perfeita, mas será de realçar os pontos positivos e é de facto essa enorme informação que estas associações têm lançado para a sociedade em geral e contribuem grandemente para a desmistificação do que é a epilepsia.



  •        As pessoas com Epilepsia sentem mais dificuldade em integrarem-se no mercado de trabalho?


Sim, as pessoas com epilepsia sentem mais dificuldade a arranjar emprego e a integrarem-se no mercado de trabalho. Não será surpresa que se indicar numa entrevista de trabalho que tem epilepsia e que tem crises que não são controladas, mesmo com uma frequência de 1 em cada 3 meses, será um ponto negativo e a entidade patronal irá olhar, no mínimo, com desconfiança. Mesmo que uma pessoa com epilepsia que tenha emprego, se tiver uma crise em frente aos colegas de trabalho, é algo que é claramente negativo e difícil de ser aceite, infelizmente pela maioria das pessoas. Como foi dito há pouco atrás, felizmente e cada vez mais existem medidas concretas para o apoio de pessoas portadoras de deficiência algo que ocorre em algumas epilepsias mais graves. A criação de cotas a nível de algumas empresas para a integração de pessoas com essas mesmas dificuldades. Essas medidas, obviamente que ajudam na integração de pessoas com deficiência no caso de epilepsias mais graves.



  •    Os familiares de uma pessoa com Epilepsia sofrem de algum tipo de preconceito por parte da sociedade?


Sim, os familiares acabam também de sofrer com o preconceito da sociedade para a pessoa com epilepsia. Não é que este preconceito seja, na larga maioria dos casos, dirigido ao familiar, mas decorre do preconceito dirigido ao familiar com epilepsia. Não são raros os existem que pais de crianças com epilepsia se queixam da forma como são tratados os seus filhos de uma forma diferente a nível de escola. E quando os pais se dirigem a essas mesmas escolas para explicar e informar o tipo de epilepsia que o seu filho sofre sentem que eles, pais, estão e começam a ser tratados de uma forma distinta. Não pelos pais em si, mas, obviamente, pelo que decorre do familiar do filho com epilepsia.



  •  Uma pessoa com Epilepsia tem dificuldade em relacionar-se com outras pessoas, de forma amorosa?


Esta pergunta é complicada. De facto a dificuldade de relacionamento de uma pessoas com epilepsia com o seu/sua companheiro/a de forma amorosa não é de forma alguma afetada pela doença em si. É sim pelo como já foi dito noutras questões pelo preconceito que está associado a esta mesma doença. Em bora da parte do companheiro da pessoa com epilepsia exista compreensão e informação do que é a doença, obvio que não fará qualquer tipo de prejuízo nesse mesmo relacionamento amoroso. Existe sim, a necessidade de informação e compreensão do que é a doença em si.



  • Em ambiente escolar, ter epilepsia pode ser um obstáculo à integração de uma pessoa?


Infelizmente, e reforço a palavra infelizmente, terei que responder que sim a esta questão. As escolas, algumas, felizmente cada vez menos continuam a não deter a informação necessária e suficiente sobre o que é esta mesma doença. Continuam a existir demasiados obstáculos à integração de uma pessoa com uma doença crónica em ambiente escolar. Continuam a surgir exemplos em que crianças com epilepsia e sem qualquer défice cognitivo associado à doença, são integradas em turmas de necessidades educativas especiais, porque meramente têm a doença. Portanto, generaliza-se não se concretiza qual é o tipo de epilepsia e de crises que aquele aluno especificamente tem e integra-se nas medidas de protecção, muitas vezes desnecessárias, e com efeito perverso muito mais estigmatizado do que propriamente na ajuda para as dificuldades que podem surgir. 


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